Disputa por fatias de tele será grande
Ao manifestar seu interesse em adquirir a Oi - seja o negócio total ou em partes -, o presidente da América Móvil, Daniel Hajj, posicionou a empresa em meio ao cenário de consolidação do mercado brasileiro. Para analistas, comprar inteiramente a Oi parece demais para qualquer operadora que atue no Brasil, pois concentraria muito mercado, mas os ativos em separado serão bastante disputados.
Juntas, Claro e Oi responderiam por 47% das receitas do setor de telefonia brasileiro, o equivalente a R$ 15 bilhões, incluindo as operações móveis e fixas. Por isso, garantir a aprovação de autoridades regulatórias seria uma proeza. A combinação de TIM e Oi, desfecho especulado nos últimos dois anos, responderia por 31% das receitas do setor, ou R$ 9,83 bilhões. Na telefonia móvel, a união de Claro e Oi responderia por 44% dos 252,6 milhões de assinantes no país.
"Apesar de a fusão fazer sentido do ponto de vista econômico, pois reduziria o número de competidores, e, portanto, aumentaria as margens, a elevada concentração de mercado deve se tornar uma barreira", escreveu o analista Andre Baggio, do JP Morgan.
Qualquer movimento de consolidação é improvável antes da conclusão do processo de recuperação judicial da Oi, avalia o Credit Suisse. Acordos que envolvam as operações de linha fixa tampouco devem sair antes da revisão do marco regulatório. O projeto de lei sobre as concessões de telefonia fixa é debatido na Câmara dos Deputados e a conclusão é esperada para o primeiro semestre de 2017, segundo o banco de investimento.
Se a aquisição de todo negócio da Oi parece improvável, a compra de determinados ativos pode definitivamente acontecer, afirma Daniel Federle, do Credit Suisse. No plano de recuperação judicial publicado no início de setembro, a Oi se dispôs a vender as redes de fibra óptica em São Paulo, call centers e o negócio de telefonia móvel, entre outros.
A fala do presidente da América Móvil é uma declaração de intenções, diz Maria Tereza Azevedo, do banco de investimento UBS. "O comentário sugere que outros CEOs também demonstrem seu interesse no ativo. É importante que as empresas se posicionem, mas tudo depende muito da questão regulatória."
A Oi pode vender seus ativos diretamente ou por leilão autorizado por credores. No primeiro caso, o comprador assume as dívidas, mas é preciso autorização do juiz se integrar o acervo permanente. No outro, os credores devem aprovar em assembleia a venda do ativo livre de dívidas, pois o valor da venda a mercado é maior, explica Guilherme Marcondes Machado, do escritório Marcondes Machado.
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